Um dos projetos mais ambiciosos
já liderados por uma equipe brasileira poderá resultar na descoberta de novos
planetas, distantes 110 anos-luz da Terra. Conduzida em conjunto com cientistas
da Austrália, Alemanha e Estados Unidos, a pesquisa é coordenada por Jorge Meléndez, astrônomo do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG)
da Universidade de São Paulo (USP).
Os estudos foram feitos num telescópio localizado no Chile, que
mede 3,6 m e pertence ao European Southern Observatory (ESO). A equipe recebeu o direito de
utilizar o equipamento durante 88 noites, um período de tempo considerado
extenso pelo cientista. "Que eu saiba, é a primeira vez que um projeto tão
longo é aprovado para o Brasil".
Nos meses de janeiro e março, os cientistas embarcam novamente
para o Chile e, se as condições meteorológicas colaborarem, poderão obter os dados
que levarão ao anúncio da primeira descoberta de um planeta pela equipe.
Cada noite de observação no telescópio chileno custa em torno de
R$ 10 mil, segundo o pesquisador. Financiado pelo próprio ESO, o projeto segue
até 2015 e, de acordo com Meléndez,
há expectativa de se detectar vários outros planetas.
"Não temos ideia de quantos planetas podem ser detectados. No
começo do projeto, tínhamos esperança de que poderiam ser descobertos uns
cinco. Talvez (descubramos) ainda mais, porque a precisão desse instrumento é
muito boa, permitiria a detecção de planetas bem pequenos", informou.
De acordo com Meléndez,
antes da entrada do Brasil ao ESO,
os projetos brasileiros mais ambiciosos não passavam de duas noites. "A
maioria dos projetos aprovados para os telescópios aos quais o Brasil tem
acesso, o Gemini (nos Andes chilenos e no Havaí) e o
Soar (no Chile), eram de algumas poucas horas ou poucas noites".
Meléndez conta que o estudo teve início em 2005 analisando estrelas
conhecidas como gêmeas solares, por apresentarem características semelhantes ao sol. "Elas são
muito parecidas, têm uma aparência física bastante similar (ao Sol),
temperatura, brilho", explicou. Após quatro anos de estudos, os cientistas
fizeram uma importante descoberta: a composição química do Sol é diferente da
de outras estrelas gêmeas. Ao aprofundar os estudos, eles notaram que o Sol
apresentava deficiência de determinados elementos químicos. "E esses
elementos são justamente aqueles usados para formar planetas rochosos",
disse.
O próximo passo dos astrônomos foi calcular quanto desse material
faltava à massa total do Sol. A conclusão foi que a deficiência constatada
nessa estrela era da mesma ordem que a massa dos planetas rochosos do Sistema
Solar, como Mercúrio, Terra, Vênus e Marte. "Não foi apenas uma coincidência qualitativa em relação ao tipo de
elemento químico que estava faltando ao Sol, mas também quantitativa",
contou.
Com base nessa descoberta, os cientistas passaram a procurar
planetas ainda não conhecidos em torno de gêmeas solares. "Estudamos qual
seria a relação entre anomalias químicas de cada estrela individualmente e a
presença de diferentes tipos de planetas", disse. A nova etapa da
pesquisa, portanto, focou uma dessas gêmeas, a mais parecida com o Sol. Após
observá-la por cinco anos, porém, nenhum planeta foi encontrado. "Já está
garantido que, pelo menos para essa gêmea solar, não existe nenhum
planeta".
Em outubro de 2011, os astrônomos decidiram ampliar a observação
de gêmeas do Sol para uma amostra de 70 estrelas. Por enquanto, as perspectivas de se encontrar novos planetas nessas
regiões são positivas. "Temos várias estrelas com sinais de que poderiam
ter planetas (em seu sistema). Em toda a amostra, temos duas com sinais muito
promissores".
Em um desses casos, o planeta apresentaria massa equivalente à
Saturno e estaria muito próximo à sua estrela-mãe, além de ser muito quente,
devido a essa proximidade. O outro possível planeta teria uma massa de
aproximadamente duas a três vezes a de Júpiter. "Mas temos apenas dados
parciais, precisamos observar essas estrelas por mais alguns meses para ter a
órbita completa e poder anunciar a descoberta", ponderou.
Fonte: Agência Brasil
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