Apesar dos problemas
ambientais estamparem as principais páginas dos jornais, ainda são raros os
prédios sustentáveis no Brasil. Com a motivação de alterar esse quadro, o
pesquisador da Unicamp Bruno Wilmer Fontes Lima desenvolveu uma metodologia que
permite que construções produzam toda a energia necessária para se manter.
As principais
fontes energéticas abordadas no estudo são os painéis fotovoltaicos.
Diferentemente dos painéis solares, que apenas esquentam água, os dispositivos
adotados transformam a energia do sol em eletricidade. O processo funciona por
meio da captação de partículas de luz, os fótons, que entram em contato com um
material semicondutor que, por sua vez, gera uma corrente elétrica.
O principal
diferencial do projeto é que não há a utilização de bancos de baterias para
armazenar o excesso de energia. Segundo Lima, esse tipo de maquinário é
inviável, pois são caros e requerem manutenção. Em vez disso, a estrutura
realizaria trocas com a rede elétrica, cedendo a energia excedente produzida
durante o dia e utilizando-a durante a noite. Por repassar parte do recurso, o
usuário receberia créditos que, posteriormente, seriam deduzidos da conta de
luz, o que geraria um custo praticamente nulo.
De acordo com o
pesquisador, esse processo de compensação é viável porque a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) publicou neste ano a resolução 482, que justamente
aborda a realização desta prática. Segundo Lima, o preço para implantar esse
tipo de tecnologia ainda é um alto, em torno de R$ 15 mil e R$ 20 mil para uma
residência com cerca de 70m² e quatro moradores. Ele ressalta que o
investimento leva de dez a 15 anos para ser recompensado financeiramente.
Entretanto, o equipamento tem vida útil de 25 anos, o que significaria ao menos
dez anos de energia praticamente grátis.
A pesquisa de Lima congrega um grupo de estudos que vai implantar um prédio
sustentável no campus da Unicamp. Apesar do estudo inicialmente abordar também
o uso de pequenas urbinas eólicas, essa alternativa não será colocada em
prática devido à pouca força dos ventos na região. Ainda não há previsão para o
início da obra, mas a construção contará com aspectos sustentáveis nas áreas
ambiental e econômica, tais como recursos de redução de consumo de água e
utilização de materiais com baixo impacto ambiental. O projeto é uma parceira
entre a universidade e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Cresce número
de construções sustentáveis
De acordo com o
gerente de relações governamentais e constitucionais do GBC Brasil (Green Building Council Brasil), Felipe Faria, o número de construções sustentáveis está
crescendo aceleradamente no país. Um indício disso é a quarta colocação
brasileira no ranking mundial, com 601 empreendimentos que receberam
certificados ou estão em processo de certificação com o selo Leed (em
português, Liderança em Energia e Design Ambiental). No ano anterior, o Brasil
havia ficado em quinto lugar, com 234 edificações. O certificado é baseado em
sete critérios: eficiência energética, uso racional da água, materiais e
recursos, qualidade ambiental interna, inovações e tecnologias, espaço
sustentável e créditos regionais.
Para a diretora do
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Érica Ferraz de Campos, o
mercado está cada vez mais atento e consciente em relação à importância de
empreendimentos idealizados com sustentabilidade. "Há uma tendência clara
de incorporar eficiência, racionalidade e durabilidade, logicamente sem
prejuízo do conforto dos usuários", diz. O dirigente do GBC Brasil
ressalta que a instituição prevê a construção de pelo menos mais 50 salas
comerciais sustentáveis até 2013, somente nas cidades de São Paulo, Rio de
Janeiro e Curitiba. Segundo ele, há projetos em praticamente todos os estados
brasileiros, apesar da concentração nas regiões Sul e Sudeste. De acordo com
Faria, o maior impedimento para o avanço desse setor é a falta de informação.
Ele ressalta também que a construção civil ainda tem uma visão imediatista, o
que prejudica o investimento em tecnologias.
Fonte: Cartola
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