Um tratamento com
células-tronco embrionárias conseguiu restabelecer a função da tireoide de
camundongos com hipotireoidismo. Depois de receberem células que assumiram aatividade de produção dos hormônios T3 e T4, associada à tireoide, os animais
tiveram o nível hormonal normalizado e se livraram dos sintomas do
hipotireoidismo. O estudo foi publicado na semana passada na revista Nature.
Hoje, não existe um tratamento para humanos capaz
de recuperar a tireoide, que pode ter sua função comprometida por doenças
autoimunes e congênitas, tumores ou uso de medicamentos. A terapia prevista
para qualquer anormalidade que acometa a glândula é a reposição hormonal: o
paciente substitui os hormônios T3 e T4 por alternativas sintéticas.
No experimento, cientistas da Universidade Livre
de Bruxelas transformaram células-tronco em células foliculares da tireoide,
responsáveis pela fabricação dos hormônios. Em seguida, implantaram essas
células no organismo de camundongos cuja tireoide havia sido danificada.
Quatro semanas depois, não só o nível de hormônios
tireoidianos voltara ao normal, como os sintomas relacionados ao
hipotireoidismo haviam desaparecido. Especialistas ressaltam que a aplicação da
técnica em humanos pode levar anos.
Para a endocrinologista Laura Sterian Ward, presidente
do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), essa estratégia de tratamento poderia beneficiar 10% dos
pacientes com hipotireoidismo, que, apesar da reposição hormonal, continuam
sofrendo com os sintomas da doença, como cansaço, dores musculares, pele seca,
queda de cabelo e ganho de peso.
O problema nesses casos, segundo Laura, é que,
apesar de os exames mostrarem que o sangue apresenta a quantidade adequada dos
hormônios após a reposição, existe a possibilidade de eles não chegarem
igualmente a cada órgão. “O que vai para cada órgão depende de um sistema fino de regulação por enzimas”, diz a especialista. “Se eu pudesse
reproduzir exatamente o que a tireoide faz, provavelmente cerca de 10% dos
pacientes seriam beneficiados”, completa.
A principal causa do hipotireoidismo, que atinge
2% das mulheres e 0,2% dos homens adultos, é a tireoidite crônica autoimune. Já
o hipotireoidismo congênito - situação em que o bebê já nasce com a deficiência
na tireoide - tem, no Brasil, incidência de 1 caso a cada 2,5 mil nascidos
vivos. O diagnóstico é feito por exame de sangue que pode ser pedido
rotineiramente ou por suspeita clínica.
Fonte: O Estado de SP
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