A revista Nature publicou, no dia 18 de outubro, uma
edição especial sobre as mudanças que ocorrem na forma como se faz ciência hoje
no mundo. Intitulada "O novo mapa da ciência", a publicação destaca
que hoje mais países, como China, Índia, Cingapura, Brasil e Coreia do Sul,
estão tomando assento na mesa das nações que realizam pesquisas de alto nível,
ao lado de superpotências como França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos,
que dominam a pesquisa científica desde 1945 e que podem
perder a liderança nos próximos anos.
Uma das razões para essa mudança nessa geografia da
ciência, segundo a publicação, é que a ciência está se tornando cada vez mais
globalizada em função da expansão de redes de colaboração em pesquisa em todas
as regiões do mundo, que estão reforçando a competência e a capacidade de
pesquisa dos países emergentes e alterando o equilíbrio global da ciência.
"As fronteiras nacionais estão sendo superadas por rede de colaboração em
pesquisa e ¿circulação de cérebros¿, que possibilitam que os cientistas se
movam de forma muito mais fluida em todo o mundo do que no passado",
aponta a publicação.
"Esse movimento de
pessoas e ideias deve mudar a forma como a ciência é feita, como é financiada e
as questões que aborda", vaticina o editorial da revista.
Para ilustrar esse novo
panorama, a revista cita dados da National Science Foundation (NSF) que aponta que quase um quarto
dos artigos científicos publicados em 2010 tinha entre seus
autores cientistas de mais de um país, contra 10% em 1990. Ainda de acordo com
dados da NSF, o número médio de autores de pesquisas hoje, que é 4,5, é
equivalente ao dobro do que era em 1980. "Uma edição da Nature hoje tem um número similar de artigos
científicos das edições de 60 anos atrás, mas eles têm pelos menos quatro vezes
mais autores", exemplifica a publicação.
Outros exemplos dados pela
publicação para ilustrar o aumento da cooperação científica internacional foram
os de alguns cientistas ganhadores do prêmio Nobel
este ano. O cientista japonês Shinya Yamanaka, vencedor do prêmio Nobel de
Medicina por suas pesquisas com células-tronco pluripotentes induzidas (IPS),
por exemplo, é professor da Universidade de Kyoto e ligado ao Instituto
Gladstone, em San Francisco, nos Estados Unidos, onde coordena pesquisa com
roedores.
Por sua vez, o francês
Serge Haroche, ganhador do prêmio Nobel de Física, é professor de física do
Collège de France, foi professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT) e das universidades Harvard e Yale, nos Estados Unidos, e mantém colaborações
em pesquisa com cientistas de diferentes países, inclusive do Brasil.
"Muitas áreas da ciência estão se tornando internacionais. Os
pesquisadores estão cada vez mais cruzando o mundo e se acostumando a trabalhar em
dois ou três países ao mesmo tempo", diz a revista.
Medidas para impulsionar a
ciência no Brasil
A edição especial da Nature reuniu
as opiniões de oito líderes de instituições, programas e agências de fomento à
pesquisa de Cingapura, África do Sul, Suíça, Espanha, Rússia, Egito, Brasil e
Coreia do Sul, sobre as medidas que devem ser tomadas para impulsionar a
pesquisa em seus países na próxima década.
O diretor científico da
Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, foi ouvido pela publicação para falar
sobre o panorama da ciência no Brasil. Em seu artigo, publicado na seção
"Comment" da edição especial, Brito Cruz destacou que o
desenvolvimento científico do Brasil nos últimos 30 anos tem sido
impressionante.
Em 2011, por exemplo, o
país formou mais de 12 mil doutores e publicou 35 mil artigos em revistas
científicas internacionais. Porém, em média, as citações de artigos científicos
de autoria de pesquisadores no mesmo ano continuam sendo as mesmas de 1994,
equivalendo a menos de 65% da média mundial. "Cientistas brasileiros devem
colaborar e publicar mais com pesquisadores de instituições de classe mundial no
exterior", indicou Brito Cruz.
Uma das propostas
apresentadas por ele é que o governo desenvolva um plano para apoiar cerca de
uma dezena de universidades na execução de programas de excelência, que
possibilite situá-las entre as 100 melhores do mundo em uma década. "O
país já tem universidades altamente seletivas, que poderiam se tornar de classe
mundial", destacou Brito Cruz.
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