Uma peculiaridade química
encontrada no solo lunar sustenta uma teoria levantada há 37 anos: a de que a
Lua surgiu de uma colisão apocalíptica entre a Terra e uma gigantesca rocha
espacial. A afirmação foi feita por cientistas em um artigo publicado na edição
desta quarta-feira da revista científica Nature.
Em 1975, astrônomos
propuseram, durante uma conferência, que bilhões de anos atrás nosso satélite
natural teria sido criado após um choque entre a Terra infantil e um corpo
celeste do tamanho de Marte denominado Theia, que na mitologia grega é a mãe da
Lua, ou Selena. Segundo essa teoria, a colisão derreteu e evaporou Theia, e
grande parte da nascente crosta terrestre, e o vapor se condensou para formar a
Lua. Isto explicaria porque a Lua é tão grande - tem cerca de um quarto do
tamanho da Terra e é o quinto maior satélite no nosso Sistema Solar
- e está tão perto de nós.
Por anos, a "Teoria
do Impacto Gigante" foi marginalizada até que simulações de computador demonstraram
que poderia ser real. Analisando preciosos grãos de solo lunar trazidos pelas
missões Apollo, os cientistas afirmam ter encontrado uma evidência química para
validar este conceito. Esta evidência consiste em um pequeno excesso em um
isótopo mais pesado, ou uma variante atômica, do elemento zinco.
Este excesso teria
ocorrido porque átomos do zinco mais pesado teriam se condensado rapidamente na
nuvem de vapor, ao invés daqueles mais leves. A minúscula, porém relevante,
diferença é denominada fraccionação isotópica. "A magnitude da fraccionação
que medimos em rochas lunares é 10 vezes maior do que a vista em rochas
terrestres e marcianas", afirmou Frederic Moynier, professor assistente
de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade de Washington em St. Louis,
Missouri. "É uma diferença importante", acrescentou.
A fraccionação foi encontrada
em 20 amostras de rochas lunares de quatro missões Apollo, que exploraram áreas
diferentes da Lua, e de um meteorito lunar. Elas foram comparadas com 10
meteoritos que foram identificados como tendo origem marciana, inclusive um que
pertencia à coleção do Vaticano, e com rochas encontradas na Terra.
Análise feita em um
espectrômetro de massa - no qual a luz de uma amostra vaporizada aponta para os
elementos contidos - demonstrou que o zinco em geral se esgotou na Lua, mas
deixou vestígios de isótopos mais pesados. A evaporação do zinco em larga
escala aponta para um megaevento como a colisão, ao invés daatividade vulcânica
localizada, afirmam os cientistas. "É preciso um tipo de evento de
derretimento indiscriminado na Lua para gerar o calor necessário para evaporar
o zinco", explicou James Day, do Instituto de Oceanografia Scripps, na
Califórnia.
Com este sucesso, afirmam
os cientistas, a Teoria do Grande Impacto poderia ser a chave para compreender
outro mistério: por que a Terra é tão dotada de água, enquanto a Lua é tão
seca? "Esta é uma pergunta muito importante, porque se estamos buscando
vida em outros planetas, precisamos reconhecer que provavelmente são
necessárias condições similares", afirmou Day. "Portanto, compreender
como os planetas obtêm tais condições é crítico para entendermos como a vida
por fim ocorre em um planeta", acrescentou.
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